Gripe suína

Infectologista afirma que é necessário manter prudência em relação à gripe suína, mas não o pânico

Por David Uip*

Uma enxurrada de informações invadiu a mídia por conta de casos de um novo tipo de gripe que vem acometendo indivíduos em sete países, sobretudo México e EUA, e que já causou algumas dezenas de óbitos. O assunto é complexo, e nesta hora é prudente manter a calma. O fim dos tempos não chegou, mas ainda não é possível dizer qual a dimensão que a epidemia de Influenza suína terá em nível mundial, nem mesmo se chegará, de fato, ao Brasil.

É importante lembrar que desde 1968 não houve vírus de doença respiratória com força suficiente para causar uma pandemia global, dizimando milhões de vidas. Isto se deve ao fato de que os países se prepararam, aperfeiçoando mecanismos de vigilância e controle de doenças. E a medicina avançou de forma significativa nesses 40 anos, com o advento de novas tecnologias, tratamentos, remédios e vacinas.

Na última década, dois tipos de vírus respiratórios chegaram a representar uma ameaça, não concretizada, de epidemia capaz de atingir todo o planeta: o da Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e o da gripe aviária. Agora, uma mutação do vírus A/H1N1, encontrado em porcos, está sendo capaz de se disseminar entre humanos, acendendo novamente o alerta.

Inúmeras questões têm sido colocadas, entre as quais como diferenciar a gripe comum da suína. O principal critério, neste momento, é o epidemiológico. Se alguém tiver febre alta, cefaleia, dores no corpo, tosse e coriza, mas não for procedente de países onde há casos confirmados de A/H1N1, é improvável que esteja com gripe suína. De qualquer maneira, na dúvida, é recomendável que a pessoa procure um serviço de saúde para orientação.

Não, de maneira nenhuma é possível contrair esse tipo de gripe comendo carne de porco. Uma vez aquecido a 70º C, o alimento tem o vírus completamente destruído, não havendo risco à saúde. As feijoadas não precisam ser sacrificadas. Também não se deve, absolutamente, tomar medicamentos antivirais para prevenir a gripe suína. Este procedimento, além de inadequado, também pode levar à resistência do vírus.

A vacina contra a gripe, aplicada gratuitamente em idosos pela rede pública, não é eficaz contra o novo vírus, mas é importante que as pessoas com 60 anos ou mais compareçam aos postos de saúde para receber uma dose até o dia 8 de maio, protegendo-se contra os tipos mais comuns de gripe e evitando complicações respiratórias como pneumonias. No Brasil, não há casos confirmados de gripe suína nem evidências de que o vírus esteja circulando. Mas as autoridades federais e estaduais estão alertas e intensificaram a vigilância.

O objetivo desse tipo de medida é identificar possíveis casos de gripe suína e encaminhar os pacientes com quadros respiratórios agudos aos hospitais de referência, aqueles com perfil especializado e leitos de isolamento para pacientes com doenças infecto-contagiosas, como os hospitais das Clínicas e Emílio Ribas, em São Paulo. Além disso, haverá monitoramento constante dos tipos de gripe que estejam ocorrendo no país, por intermédio das unidades-sentinela, que irão coletar regularmente amostras de secreções nasais e de garganta de pessoas com quadros gripais para isolamento dos vírus, e dos laboratórios de saúde pública de referência nacional, como o Instituto Adolfo Lutz.

Como já ressaltaram as autoridades sanitárias nacionais, não há motivo para pânico. Prudentemente, é recomendável adiar viagens para países com surtos de gripe suína e manter-se informado sobre a evolução da doença no mundo. Fora isso, vida normal.


(*) David Uip é médico infectologista e diretor do hospital estadual Emílio Ribas, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

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Artigo publicado em 29/04/09, no jornal Folha de S.Paulo.